Mato Grosso, 29 de Novembro de 2024
Politica

Tudo sobre o DIU

16.12.2016
07:42
FONTE: Karolina Bergamo

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  • O uso do DIU é cercado de mitos, mas ele pode ser muito benéfico a várias mulheres
Depois que Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, várias americanas foram às redes sociais demonstrar preocupação com uma provável falta de acesso ao dispositivo de contracepção intrauterino, o DIU. Tudo porque, durante sua campanha, o então candidato garantiu que poria fim ao programa que oferece acesso gratuito ao método — hoje o preferido da população feminina de lá.

Se fosse no Brasil, possivelmente essa medida não causaria tanta comoção. Embora exista até uma versão de DIU disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), ele ainda é pouco popular em nosso país. Prova disso é que nem 5% das brasileiras recorrem ao aparato.

O fato de não ser o líder de preferência não tem nada a ver com a sua eficácia. Segundo um estudo da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, seu índice de falha varia de 0,2 a 0,8%, contra 9% da pílula. O que influi muito aí é o desconhecimento.

O DIU é uma peça em formato de “T” inserida dentro do útero, o que já gera desconfiança entre as mulheres. “Esse órgão é tido como um local sagrado de desenvolvimento de vida”, nota a ginecologista Ana Luiza Antunes Faria, do Hospital Pérola Byington, na capital paulista. Mas o que mais intriga são as repercussões depois de instalado o dispositivo.


“Existem vários mitos em relação a ele”, afirma o ginecologista Agnaldo Lopes, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Grande parte dos receios está relacionada a eventuais efeitos colaterais, como risco de perfuração da parede do útero, infecções e sangramento excessivo.

Ventila-se por aí que o DIU poderia trazer problemas especialmente a mulheres jovens e às que nunca tiveram filhos. Mas a ginecologista Halana Faria, do Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde, em Florianópolis, já adianta: “Todos os métodos contraceptivos têm efeitos colaterais. A questão é avaliar quais são toleráveis para cada uma”.

Em todo caso, para tirar a pulga atrás da orelha, especialistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano, o CDC, resolveram checar se os DIUs incitam alguma encrenca entre quem é jovem. Para isso, revisaram nada menos do que 3 mil artigos científicos.

Eles concluíram que, em relação às mulheres mais velhas, as moças não apresentam aumento significativo na possibilidade de sofrer as temidas reações adversas. Além disso, o método proporciona uma contracepção reversível altamente eficaz.

Por falar em efetividade, nesse quesito o DIU é considerado até melhor do que a pílula anticoncepcional, já que não depende da disciplina da usuária. As brasileiras são campeãs em esquecer de tomar o comprimido. Segundo levantamento encomendado pela farmacêutica Bayer, 58% delas se descuidam com frequência — a média global é de 39%. No fim das contas, a negligência se traduz em surpresa diante do teste de gravidez.

Não é à toa, aliás, que mais de 50% das gestações por aqui ocorrem sem planejamento. “As consequências são negativas, incluindo risco de morte entre mães e bebês”, afirma a ginecologista Carla Martins, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Sem contar que metade desses casos acaba em aborto. “E ele quase sempre é feito de forma ilegal e insegura, aumentando ainda mais o perigo”, lembra Lopes.

O pré-requisito fundamental para inserir o DIU é ter uma cavidade uterina que comporte o acessório — pessoas com má-formação ou que tenham apresentado alguma disfunção no órgão provavelmente não se adaptarão bem. Quem avalia essa questão, como dá para imaginar, é o ginecologista. Aliás, a peça é implantada no consultório desse especialista — o procedimento não requer internação nem anestesia e dura, em média, 15 minutos.

Agora, quando uma mulher decide pelo dispositivo anticoncepcional intrauterino, ainda tem que escolher entre a peça de cobre ou a de plástico. A função de ambas é basicamente impedir o encontro dos espermatozoides com os óvulos, mas cada um carrega suas particularidades. Veja:

DIU de cobre

Prós: não tem hormônio, é mais barato e não interrompe totalmente a ovulação. É possível deixá-lo no corpo por até dez anos.

Contras: pode aumentar bastante o fluxo menstrual e, por consequência, as cólicas. Isso ocorre principalmente por causa da inflamação que o dispositivo é capaz de gerar no útero.

DIU hormonal

Prós: o fluxo menstrual é reduzido e provoca menos cólicas. Controla sintomas de endometriose e possui menor índice de

falhas em relação à gravidez.

Contras: tem que trocar após cinco anos e é mais caro. Pode levar a um aumento de peso, já que mexe com hormônios. E, nos primeiros meses, há risco de desregular o ciclo menstrual.

Outra vantagem do DIU frente às pílulas: a ausência de estrogênio em sua composição. É que esse hormônio está associado a um maior risco de trombose — isto é, o surgimento de um coágulo na corrente sanguínea capaz de viajar pelo corpo e causar estragos. Sem contar que, no DIU de plástico, o hormônio levonorgestrel é liberado aos pouquinhos e só no local. Isso significa que a quantidade dele na circulação é bem menor. Tanto é que a mulher continua ovulando.

Por sua vez, a peça de cobre é a alternativa ideal para quem não quer (ou não pode) ter nenhum hormônio artificial circulando pelo corpo. “Já ouvi relatos de pacientes que gostam de sentir totalmente o ritmo de seu ciclo menstrual. E o dispositivo de cobre permite isso”, esclarece Ana Luiza.

No entanto, um inconveniente desse tipo de DIU é o aumento do fluxo menstrual e das cólicas — sintomas que não são percebidos com a peça de plástico por causa da presença de um pouco de hormônio. Um estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, mostrou que o acessório de cobre pode intensificar o volume da menstruação de 20 a 50% nos primeiros 12 meses após a inserção. “Isso deixa de ser considerado normal se afetar a qualidade de vida ou ocasionar problemas como anemia”, avisa Halana.

A verdade é que não existe um manual de instruções que possa ser seguido 100% à risca. Vale o chavão: cada caso é um caso. O essencial é conhecer as opções disponíveis e conversar com o gineco.

“A escolha de um bom método contraceptivo é fundamental para a liberdade sexual da mulher. Mas, ainda assim, tem que usar camisinha”, defende a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, do Rio de Janeiro. Com ou sem o DIU, algumas coisas não mudam.

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