O caminhão do futuro chegou e pede passagem. A Mercedes-Benz apresentou no dia 04 de julho, em Magdeburg, na Alemanha, o Future Truck 2015. O caminhão do futuro conta com o sistema de direção autônoma que permite que o caminhão rode a 80km/h em estradas de longa distância sem que o motorista precise dirigir.
Por intermédio de recursos da telemática, o caminhão se comunica com os outros veículos e com a infra estrutura. Radares, câmeras, sensores e a interligação com a rede de dados e internet fazem a leitura de obstáculos, condições da pista, veículos, acidentes e condições climáticas. O sistema consegue analisar esses dados e tomar decisões como frear, reduzir, acelerar, desviar e até mesmo levar o veiculo para o acostamento para que ele seja parado.
Antes de cada mudança na condução do caminhão o motorista é avisado através de mensagens. Nos casos em que a legislação ou o sistema entendem que a intervenção é necessária, o sistema avisa ao motorista, também através de mensagens eletrônicas, para que ele assuma a direção. Seria mais ou menos o que acontece com os aviões em velocidade de cruzeiro e os pilotos só são acionados quando necessário.
O sistema está preparado para atuar em condiçōes extremas, com trânsito adensado, buracos, neve ou chuva. A Mercedes-benz já tem o protótipo que consegue realizar todas essas tarefas e acredita que até 2020 o caminhão de direção autônoma será uma realidade. Quem precisa ser preparado ainda para esse novo conceito de direção somos nós e a legislação.
E agora José?
Independente de quanto esse sistema irá custar, o futuro já chegou. O novo veiculo já existe, e agora a pergunta não é mais se é possível, mas de quando será possível? O tempo para que se torne realidade vai depender das respostas dadas as perguntas mais humanas que estão sendo feitas. Qual será o papel do motorista no futuro? Qual tipo de qualificação será necessária? O que ele fará no tempo em que está dentro da cabine e não está dirigindo? A profissão será valorizada ou não? O caminhoneiro autônomo irá virar empresário? O caminhão será o novo escritório? Como as empresas de transporte e de logística irão absorver o novo profissional e a nova realidade? Quem é responsável em caso de acidente quando o sistema de direção assistida está operando o caminhão? Muitos dados serão gerados, quem será dono das informações coletadas? Qual o impacto disso tudo na sociedade e no sistema? São muitas perguntas sem resposta ainda.
Hoje o motorista é o responsável pela condução do caminhão. O motorista precisa estar dentro da cabine em estado de alerta durante todo trajeto. Não é permitido que o sistema autônomo dirija o caminhão enquanto o motorista dorme. Nem que o veiculo trafegue sem o motorista dentro da cabine. Manobras de ultrapassagem, retorno, entrada em rodovias necessitam do total controle do motorista. O sistema de assistência de direção deve ter dispositivos que permitam a qualquer momento o seu desligamento para que o motorista possa assumir a direção do veiculo. A Convenção de Viena, de 1968, que regulamenta as normas do transporte rodoviário, determina que o motorista deve ter o controle do veiculo o tempo todo e sob todas as circunstâncias.
As leis que regem a vida dos usuários de vias terrestres e ditam quais sãos os deveres e direitos nas vias públicas estão sujeitas ao Código de Trânsito de cada país, mas também a Convenção de Viena que estipula regras internacionais para os países que aderiram a Convenção. O Brasil assinou a Convenção de Viena em 1981.
A cara do futuro
O “Future Truck 2025” com “Highway Pilot” (piloto rodoviário) é o Mercedes-Benz Actros 1845, com motor de 449 cv de potência, torque máximo de 2.200 Nm e câmbio totalmente automatizado Mercedes PowerShift 3 de 12 marchas.
O design do semirreboque é resultado do “Aerodynamics Trailer” da Mercedes-Benz, que fez sua estreia mundial há dois anos, na IAA 2012. As medidas de otimização da aerodinâmica deste protótipo permitem reduzir o consumo em até 5%.
A direção autônoma precisa de muita tecnologia embarcada. O FT 2025 tem na parte dianteira inferior um sensor de radar que explora a região de curta e de longa distância adiante do caminhão, com alcances de 70 metros e possui ângulo de abertura de 130 graus e 250 metros, monitorando a estrada em um ângulo de abertura de 18 graus, respectivamente. Nas laterais funcionam radares que monitoraram as áreas da estrada à esquerda e à direita do caminhão.
Uma câmera estereoscópica situada sobre o painel de instrumentos, atrás do parabrisa, também varre a área situada à frente do veículo. A câmera estereoscópica tem um alcance de 100 metros e cobre uma área de 45 graus na horizontal e 27 graus na vertical e consegue identificar uma ou duas pistas da estrada, além de pedestres, obstáculos estáticos ou em movimento, outros objetos dentro da área monitorada e as características da via.
Os sensores e a câmera estão ativos em todas as marchas de velocidade, tanto com o veículo parado como à velocidade máxima autorizada pela lei para os caminhões, 80 km/h. Além disso, o sistema dispõe dos dados do mapa digital viário em três dimensões para que o caminhão reconheça o traçado da estrada e a topografia da rota.
COMO FUNCIONA - O motorista do FT 2025 entra na pista da direita e ao alcançar a velocidade de 80km/h ele pode acionar o modo autônomo de direção com o “Highway Pilot”. O sistema funciona independente da existência de veículos a sua frente, graças à interconexão em rede, não por formação de um comboio com um veículo guia.
Quando o motorista ativa o sistema “Highway Pilot”, pode girar seu assento 45 graus no sentido horário, para uma posição de trabalho ou de descanso. O motorista tem a sua disposição um tablet removível com tela sensível ao toque para poder executar outras atividades e para a comunicação com seu entorno. O novo interior da cabina também aumenta muito sua liberdade de movimentos
NÚMEROS - A Mercedes-Benz investe 1,1 bilhões euros por ano no desenvolvimento de tecnologias de direção assistida, autônoma e de segurança. Para garantir a viabilidade, reduzir o tempo e o custo final do Future Truck 2025 a montadora alemã utilizou os sistemas de segurança desenvolvidos, aprovados e incorporados as suas linhas de produtos como assistente de frenagem ativa, controle de estabilidade, assistente de controle de proximidade. Os novos componentes como radares, câmeras e sensores também são fabricados em série e existem já há algum tempo no mercado.
A corrida para produzir veículos autônomos está acelerada. A previsão é que em 2020 esta tecnologia esteja nas ruas. O esforço mundial e a cooperação entre fabricantes, governos, técnicos para que isso aconteça apresentam números interessantes. O Ministério do Transporte da Alemanha prevê que o crescimento no volume do transporte de cargas em caminhões no país seja de 39% até 2030. E alerta que não é possível neste período aumentar o número de estradas ou duplicar a infra estrutura. O que se pode fazer é otimizar o uso da infra estrutura existente. A Alemanha registrou 600 mil quilômetros de congestionamento no ano de 2012, o que gerou a queima de 12 mil litros de combustível.
Outros países e empresas também estão nessa corrida. Carros que estacionam sozinhos, freiam sozinhos, pilotos automáticos, e uma série de equipamentos já existem e seguem na direção da automação. No Arizona (EUA) já foi permitida a utilização de direção autônoma para automóvel, o Google Car já realizou experiências de direção com um motorista cego. Parte da argumentação em defesa da direção autônoma está nos números de acidentes em decorrência do fator humano, seja por cansaço, desatenção ou embriaguez. Outra parte se fundamenta na eficiência e economia que a direção autônoma pode trazer.
Klaus Ruff, assessor de gerência da Área de Prevenção da Associação Alemã Profissional de Transporte e Tráfego (BG Verkehr), explica seu ponto de vista: “A jornada de trabalho de um motorista de caminhão é muito exigente. A necessidade de ficar sempre atento, a monotonia dos longos percursos, o trânsito denso e a frequência estressante, o ruído dos veículos e a alternância dos turnos de dia e de noite são apenas alguns aspectos. Os sistemas modernos de assistência à condução facilitam seu trabalho e aumentam a segurança rodoviária”.
“A condução autônoma necessariamente acarretará mudanças na profissão do motorista de caminhão, que disporá de tempo para outras ocupações diferentes do manejo imediato do veículo, como tarefas administrativas, interação social e fases de relaxamento”, comenta Klaus Ruff. “A condução autônoma possibilitará ao motorista tarefas mais variadas e menos desgastantes, o que tornará mais atraente essa profissão. O futuro dirá se com isso estará solucionada a atual escassez de motoristas”