Com um padrão de consumo avassalador, “alimentado” pela voracidade consumista de 20% da população mundial (1,4 bilhão de pessoas) residente nas sociedades mais abastadas, o Planeta Terra apresenta sinais de completo esgotamento, não suportando os atuais níveis de produção e consumo expansivos.
Não por acaso, 10% da terra fértil do planeta já se transformou em deserto. Por ano, são perdidos 7 milhões de hectares. Simplesmente, 60% dos principais serviços ecossistêmicos estão deteriorados.
Nos últimos 50 anos houve uma perda de 35% dos manguezais, 40% das florestas, 50% das áreas alagadas. Atualmente, os estoques de peixes estão 80% menores e a área cultivada de todo o Planeta cobriu 25% da superfície da Terra.
Para reverter esse quadro é urgentemente necessário (re)organizar a sociedade produtiva conciliando o desenvolvimento econômico com a promoção do desenvolvimento social e o equilíbrio ecológico, respeitando, acima de tudo, a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, ou seja, a base e o suporte da atividade econômica.
A noção central em relação a isso é a de compatibilizar as dimensões econômica, social e ambiental. Esse é o ponto-chave para tentar superar o dilema dicotômico entre a política de crescimento econômico e a necessidade de se preservar o equilíbrio ecológico.
Busca-se com isso cumprir três princípios básicos que estão referenciados no conhecido Relatório Brundtland, do já longínquo ano de 1987: 1) desenvolvimento econômico (aspiração imanente da humanidade); 2) proteção ambiental (cuidado para com a Casa Comum); e, 3) equidade social (inclusão dos excluídos).
Para superar essa dicotomia, tem-se um evidente questionamento do ecologismo sobre a racionalidade econômica, tendo em conta que essa última, pelas lentes do pensamento neoclássico (tradicional), pouca importância tem conferido às consequências ambientais advindas do intenso e frenético estímulo ao crescimento econômico.
Por sinal, alcançar de forma invasiva o crescimento da economia a qualquer “custo” se transformou, de tempos para cá, numa espécie de obsessão da macroeconomia convencional, ignorando que tal fato ocasiona graves distúrbios na biosfera, pondo em risco a base de sustentação da vida.
É exatamente por esse tipo de “invasão econômica” provocada pelo crescimento que os recursos naturais são dilapidados, expondo de igual maneira os principais ecossistemas.
Continuar estimulando a aceleração do crescimento produtivo na prática apenas aumenta de forma substancial a perda de diversidade biológica e ecossistêmica. É importante não perder de vista que aumentar a produção econômica, dentre tantos outros estragos ambientais, também é sinônimo de poluir mais ainda a atmosfera.
Nos dias atuais, mais de dois milhões de pessoas morrem a cada ano no mundo em decorrência da poluição, alojando nos pulmões pequenas partículas (PM 10) geradas pela queima de combustíveis fósseis, além da poluição de ozônio (O3).
Somente na América Latina e no Caribe, a cada ano, morrem aproximadamente 35 mil pessoas devido à contaminação do ar; na Europa, são mais de 150 mil e, no leste da Ásia, mais de 1 milhão de vidas são ceifadas pelo mesmo motivo.
Por isso o posicionamento ecológico deve estar acima do pensamento econômico tradicional, ferindo assim, para desespero dos economistas tradicionais, o dogma atinente ao crescimento econômico, visto e defendido erroneamente como fator preponderante para consolidar a prosperidade de uma sociedade.
Marcus Eduardo de Oliveira é professor de economia no UNIFIEO e na FAC-FITO.
Mestre em Integração da América Latina (USP).
prof.marcuseduardo@bol.com.br