Desde o momento em que a atividade econômica, grosso modo, consolidou a vontade máxima de progredir da humanidade na produção e no consumo de mercadorias, de imediato houve um choque entre os sistemas econômico e ecológico.
Choque esse que, com o passar dos tempos e com o avanço das economias modernas que expandem sua capacidade de produção a qualquer custo, contribuiu sobremaneira para aprofundar os danos ambientais, dada a escassez acentuada de recursos naturais.
Desde então, o crescimento passou a ser visto e entendido como espécie de sinônimo do aumento contínuo das quantidades produzidas. Lamentavelmente, isso levou a consolidar um tipo de sociedade voltada quase que exclusivamente para a abundância material.
Essa abundância material, por sua vez, se converteu então num “falso” paradigma de bem-estar e, o lado inverso dessa moeda – a moderação no consumo e na produção – se tornou algo ruim, verdadeira erva daninha para o crescimento da economia, especialmente para os indicadores econômicos (PIB, em destaque) que avaliam a capacidade produtiva das economias.
Dessa perspectiva emergiu o principal conflito entre a economia e a ecologia: crescer versus preservar. A expressão máxima desse conflito, pois, está implícita na existência de limites.
Em relação a isso, não se pode perder de vista que os recursos naturais são – e tudo indica que continuarão sendo – limitados (e muitos deles finitos) frente aos desejos cada vez mais ilimitados (e infinitos) da sociedade.
De uma sociedade de consumo, diga-se de passagem, consubstanciada na aquisição e no acúmulo material. O que está bem claro é que, enquanto a teoria econômica continuar usando e abusando da criação de novas “necessidades”, será muito difícil mudar a “cara” da economia para um desenvolvimento sustentável que esteja subordinado às leis da natureza; principalmente aos parâmetros essenciais (dentro de limites ecológicos) que dão finalidade e coerência ao termo sustentável, ou seja, a parcimônia no uso e trato dos recursos naturais.
Tudo isso passa, essencialmente, por produzir bem-estar de outra maneira, respeitando o meio ambiente, e não destruindo-o com a transformação de recursos em mercadorias descartáveis, fúteis e, em muitos casos, desnecessárias.
Cada vez mais torna-se fundamentalmente importante difundir a noção de que mais produção (a essência do crescimento) é destruidora do meio ambiente.
À medida que se toma consciência dos impactos negativos do crescimento sobre o meio ambiente aproxima-se mais da tentativa em reverter o modelo econômico que aí está.
Contudo, tal atitude não é e nem será fácil, mas é perfeitamente possível e muito desejável. Certo mesmo é que se a humanidade quer sobreviver em equilíbrio, num ambiente saudável, ela precisará, primeiramente, ter a coragem de virar a página da abundância sem limites.
Para sustentar o modelo econômico dominante e convencional de hoje estamos consumindo os recursos da Terra mais rápido do que a natureza pode reabastecê-los, e isso não mais pode perdurar.
Por isso, o maior dilema dos tempos atuais talvez seja o de conciliar nossas aspirações por bem-estar, por uma vida boa, com as reservas ecossistêmicas de um planeta finito.
Estejamos cientes de que nenhum subsistema (e a atividade econômica é um deles) pode crescer indefinidamente em termos físicos. Se os economistas tradicionais se derem conta disso, certamente a vida saberá agradecer.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do
UNIFIEO, em São Paulo.
prof.marcuseduardo@bol.com.br