Durou cerca de cinco horas a agonia de um trabalhador de 23 anos que limpava um silo de armazém de grãos no distrito de Ana Terra, em Tapurah, caiu e ficou soterrado em meio a soja que estava no silo. O jovem Maicon Thiago Eickhoff foi socorrido por um caminhoneiro que aguardava do lado de fora do armazém e ouviu seus gritos pedindo ajuda. Auxiliado por outro caminhoneiro, ele deu o apoio necessário até a chegada de soldados do Corpo de Bombeiros de Lucas do Rio Verde.
Segundo Fábio Vasconcelos, 33, no momento em que desceu até o silo havia muita escuridão e não foi possível ver o rapaz que pedia socorro. Ele cavou até retirar a soja que cobria Maicon, encontrando primeiro a mão e depois a cabeça do trabalhador. “Aí ele começou a falar pra mim que ia morrer, e eu falava que não. Graças a Deus conseguimos tirar ele”, comemorou Vasconcelos, que rejeitou o rótulo de herói. “Hoje eu fiz pra ele, amanhã ele pode fazer pra outro, tomara que não, mas se um dia eu precisar, outro pode fazer isso por mim”, emendou. “Sinto que cumpri meu dever”.
O socorro prestado pelos caminhoneiros, contudo, quase foi prejudicado por funcionários da área de segurança da empresa. Um dos motoristas que aguardava para carregar soja no armazém reclamou que os profissionais foram expulsos do interior da empresa. Fábio e o outro caminhoneiro, que não foi identificado, ignoraram a ordem e procuraram dar apoio ao resgate que começou por volta das 11 horas e terminou por volta 16 horas.
O comandante da guarnição do Corpo de Bombeiros, tenente Amaurício, informou que a vítima não aparentava lesões e foi encaminhada imediatamente para atendimento médico no Hospital Municipal de Tapurah. Uma ambulância do município ficou à espera, dentro da empresa, para efetuar o transporte do trabalhador até a unidade de saúde. O oficial disse que o rapaz não tinha equipamentos de segurança e citou que o ambiente era propício para soterramento de outras pessoas que tentassem efetuar o resgate. “Ele chegou a ficar coberto (de soja) totalmente, mas os companheiros dele conseguiram abrir espaço pra ele respirar, o que foi fundamental para mantê-lo vivo até a gente chegar”, explicou o militar. “O ambiente inóspito e equipamentos que propiciam até soterrar as outras pessoas que trabalharam no resgate”, citou tenente Amaurício, ao explicar as condições encontradas pelos bombeiros no trabalho de resgate.
O comandante do Destacamento da Polícia Militar em Tapurah, sargento J. Lima, informou que o trabalhador não usava os equipamentos de proteção individual no momento em que efetuava a limpeza no interior da unidade. Diante disso, ao perder o equilíbrio praticamente foi sugado pela soja estocada no silo. O graduado explicou que foi feito um buraco para escoar a soja e reduzir o impacto dos grãos sobre o corpo do trabalhador. “Percebe-se que estava sem equipamento de segurança e já cabe aí uma investigação. A empresa tem que coibir e cobrar do funcionário que use o equipamento e aqui o funcionário não apresentava nenhum equipamento”, declarou o comandante, citando que em cinco anos na PM do município foi o primeiro caso de soterramento por grãos em armazéns.
O gerente da unidade não deu declarações à imprensa.