Mato Grosso, 29 de Novembro de 2024
Economia / Agronegócio

BC de Tombini entregou inflação perto do teto do sistema de metas

27.11.2014
15:41
FONTE: G1

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  • O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, permanece no cargo
O Palácio do Planalto confirmou nesta quinta-feira (27) a permanência do economista Alexandre Tombini no comando do Banco Central no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Ele chefia a autoridade monetária desde 2011 – quando Dilma assumiu o poder.

Gaúcho de Porto Alegre, torcedor do Internacional, pai de dois filhos e funcionário de carreira do governo, Tombini se formou em Economia pela UNB, em 1984, e obteve seu PHD pela universidade de Illinois (EUA), em agosto de 1991. Sério e discreto, Tombini não costuma conceder entrevistas coletivas para a imprensa nacional, mas participa de teleconferências com jornalistas estrangeiros. O presidente do BC também aprecia um bom churrasco e joga tênis.

Os economistas avaliam que a gestão de Alexandre Tombini no BC no primeiro mandato de Dilma foi prejudicada pela queda nos últimos anos do superávit primário, a economia para pagar juros da dívida, consequência do aumento de gastos públicos em um cenário de desaceleração das receitas – por conta do ritmo menor de crescimento da economia e das desonerações.

Em 2011, o superávit primário do setor público somou 3,11% do PIB, recuando para 2,39% em 2012 e para 1,88% do PIB em 2013. Em doze meses até setembro, último resultado disponível, já havia recuado para 0,6% do PIB. Em dezembro do ano passado, Tombini declarou, no Congresso, que qualquer BC defende "quanto mais fiscal, melhor".

Inflação em alta

Nos quatro anos em que esteve no comando do BC, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou distante da meta central de 4,5% fixada em todo período. A inflação, nos últimos cinco anos, oscilou ao redor de 6%, muito mais próxima do teto de 6,5% do sistema brasileiro.

Em 2011, 2012 e 2013, a inflação somou, respectivamente, 6,5% (no limite do teto do sistema de metas), 5,84% e 5,91%. Para este ano, a expectativa do mercado financeiro é de que o IPCA some 6,4%. O BC informou, no relatório de inflação de setembro deste ano, que a inflação deve começar a convergir mais fortemente em direção à meta central de 4,5% somente em 2016.

Com a estimativa de 6,4% do mercado financeiro para este ano, o IPCA médio do primeiro mandato de Dilma ficará em 6,16%. Será o primeiro aumento, por governos, desde a implementação do Plano Real, em 1994.

Entre 1995 e 1998, no primeiro mandato de FHC, a inflação média, medida pelo IPCA, somou 9,71%. No segundo mandato de Fernando Henrique, entre 1999 e 2002, já com o sistema de metas de inflação em vigência, o IPCA médio somou 8,77%.

Na primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi de 2003 a 2006, a inflação média, ainda segundo dados oficiais, somou 6,43%. Já no segundo mandato do presidente Lula, o IPCA médio recuou para 5,14%.

Juros e esforço fiscal

O principal instrumento do BC para conter as pressões inflacionárias é a taxa básica de juros da economia – a Selic – fixada a cada 45 dias em reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), composto pelo presidente e pelos diretores da instituição.

Em 2012, o BC, comandado por Tombini, promoveu forte redução dos juros. No fim daquele ano, a taxa Selic atingiu 7,25% ao ano – o menor patamar da história. Entretanto, em 2013 e 2014, os juros voltaram a subir para conter pressões inflacionárias, e atualmente, a taxa já está em 11,25% ao ano, acima do patamar de 10,75% ao ano do início do mandato de Dilma Rousseff.

Os juros reais brasileiros, calculados após o abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses, são os maiores do mundo. Juros altos, embora atuem para controlar a inflação, inibem investimentos e drenam recursos das contas públicas. No ano passado, a conta de juros do setor público somou 5% do PIB – patamar elevado em termos internacionais.

Política cambial

Na política cambial, o Banco Central tem informado que sua linha de atuação visa conter volatilidade excessiva (forte sobe e desce do dólar) e, também, para corrigir eventuais distorções de liquidez, o que inclui o mercado futuro (derivativos). Dólar mais alto estimula a competitividade de produtos brasileiros no exterior, mas também pressiona mais a inflação no Brasil – uma vez que os importados ficam mais caros – e vice-versa.

Em 2011, o governo atuava para evitar uma queda muito grande do dólar e causar prejuízos maiores para a indústria. Para isso, o Ministério da Fazenda subiu o IOF sobre empréstimos buscados no exteiror, passou a tributar derivativos (operações no mercado futuro) e o Banco Central comprou dólares no mercado – que foram para as reservas internacionais brasileiras. Naquele ano, as reservas subiram mais de US$ 60 bilhões.

O dólar fechou 2010 cotado a R$ 1,60, mas, em julho de 2011, mesmo com as medidas, já estava em R$ 1,55. Naquele ano, havia fartura de recursos nos mercados, por conta da injeção de divisas promovida pelos países desenvolvidos para reativar sua economia após a crise. Foi registrado o ingresso de US$ 65 bilhões na economia brasileira em 2011.

Em 2012, porém, o cenário mudou um pouco. O dólar passou a registrar alta e, em maio, já batia em R$ 2 – terminando aquele ano em R$ 2,04. O governo começou a atuar no sentido inverso, retirando restrições ao ingresso de divisas. Com isso, baixou o IOF para empréstimos no exterior e diminuiu as compras de dólares.

Em agosto do ano passado, quando o dólar bateu em R$ 2,43, o BC retomou os leilões diários de contratos de "swap cambial" – instrumentos que funcionam como venda de moeda no mercado futuro. Desde então, emitiu mais de R$ 500 bilhões neste instrumento, mas resgatou cerca de R$ 300 bilhões – restando R$ 236 bilhões em mercado (o equivalente a cerca de US$ 100 bilhões).

Economistas avaliam que a pressão sobre a taxa de câmbio esperada para os próximos anos, fruto da retirada dos estímulos nas economias desenvolvidas – com respectivo impacto de alta na inflação – e a admininistração do passivo de US$ 100 bilhões em contratos de swap cambial no mercado futuro também estão entre os desafios do presidente do BC nessa nova gestão.

Carreira de Tombini

Antes de assumir o comando do Banco Central, Tombini foi diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro da instituição, entre abril de 2006 e dezembro de 2010, diretor de Assuntos Internacionais em 2006 e diretor de Estudos Especiais do BC entre 2005 e 2006.

Entre 2001 e 2005, ele foi assessor sênior do diretor executivo e membro da diretoria executiva. Serviu no escritório da representação brasileira no Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington (Estados Unidos).

Além do BC e do FMI, também já trabalhou como assessor especial da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e da Casa Civil de 1995 a 1998, além de ter coordenado a área externa da Secretaria de Política Econômica (SPE), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, entre 1992 e 1995.

Entre março de 1999 e junho de 2001, no início das metas de inflação, Tombini trabalhou com Armínio Fraga nos estudos sobre o sistema de metas, assim como na regulação do setor financeiro, com ênfase em risco de mercado.

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