Mato Grosso, 20 de Janeiro de 2025
Politica

Diafragma: conhece esse método contraceptivo?

26.06.2017
08:14
FONTE: Maria Clara Vieira

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Você é brasileira, está em idade fértil e se protege da gravidez com o uso de camisinha ou pílula anticoncepcional. Certo? É fácil saber isso. Afinal, esses são os métodos anticoncepcionais mais populares no país. No Brasil, 79% das mulheres usam algum tipo de contraceptivo, e a grande maioria opta pelos hormonais (como a pílula e a injeção) ou escolhem a camisinha, que é um método de barreira. Mas poucos casais se lembram de uma opção antiga, que parece estar voltando aos poucos: o diafragma – você deve ter ouvido falar dele em uma daquelas velhas aulas de sexualidade na escola.

 

Agora, as mulheres estão redescobrindo essa alternativa e se reúnem em grupos online para trocar informações. No geral, são pessoas que querem se livrar do uso de hormônios (e dos efeitos colaterais que vêm com eles) ou que desejam associar o diafragma a outros métodos (como camisinha ou tabelinha) para obter proteção extra. No Facebook, o grupo fechado Diafragma – Método Contraceptivo foi criado em agosto do ano passado especificamente para as interessadas no tema. Já são mais de 5 mil participantes que conversam sem tabus e se ajudam trocando experiências pessoais. Outro grupo que só cresce é o Adeus Hormônios: Contracepção Não-Hormonal, com 123 mil membros. Lá, todas têm um objetivo em comum: descobrir a melhor forma de evitar a gravidez sem bombardear o corpo com hormônios. Para isso, discutem sobre diversos métodos – entre eles, o personagem principal desta reportagem.

 

“Temos recomendado o uso associado. Algumas mulheres e profissionais talvez perguntem: mas faz sentido? Bom, faz sentido para muitas mulheres. A diversidade de métodos é importante”, explica a ginecologista Halana Faria, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, que se tornou referência para o método em São Paulo (SP). “O diafragma possibilita que a mulher entre em contato com o seu corpo e entenda a sua anatomia e fisiologia. Gera autonomia, porque ela coloca e tira quando quer. Não depende de um profissional, como acontece com implantes e o DIU”, afirma. CRESCER conversou com vários especialistas para entender tudo sobre o diafragma. Confira a seguir.

 

O QUE É?

Trata-se de um método contraceptivo não hormonal, e sim de barreira. Ou seja, ele evita a gravidez porque impede que o espermatozoide entre em contato com o óvulo. O diafragma nada mais é do que um molde de silicone de formato circular. Antes da relação, ele deve ser introduzido pelo canal vaginal e posicionado de modo a cobrir o colo do útero.

 

QUANDO SURGIU E POR QUE CAIU EM DESUSO?

O diafragma nasceu na Alemanha, no século 19, segundo registros da literatura médica. No Brasil, chegou no fim dos anos 1980. Muitas escolas explicaram sobre o método nas aulas de educação sexual, mas, atualmente, poucos o conhecem. Nas redes sociais, as mulheres reclamam da dificuldade de encontrar médicos que saibam orientá-las sobre o uso. Segundo os profissionais ouvidos pela CRESCER, a queda na popularidade se deve, em boa parte, à crescente medicação da saúde feminina. Dos anos 1990 para cá, a pílula ganhou espaço e o diafragma passou a ser visto como ultrapassado. Outro motivo seria que a eficácia dele (94%) não é tão alta quanto a da pílula (99%), do DIU (97%) ou do implante subcutâneo (99%). É preciso considerar, ainda, que o médico tenha de conhecer bem o método para prescrevê-lo, além de estar disposto a orientar a mulher. Uma consulta em que o diafragma é apresentado costuma ser mais longa, já que o especialista precisa passar uma série de informações e orientações. Um levantamento da Febrasgo com 600 médicos mostrou que 34% deles não tiveram treinamento para ensinar a paciente a usar o diafragma e, mesmo os que sabiam, raramente o indicavam.

 

QUAIS SÃO OS CUIDADOS BÁSICOS?

Antes de tudo, saiba que o diafragma dura por três anos, segundo o fabricante. Após esse período, deve ser trocado para que não haja risco de gravidez indesejada. Também é preciso adquirir um novo caso surja algum furo ou risco na superfície. A higienização do objeto pode acontecer no banho mesmo e não precisa de nada além de água e sabão. Quando não estiver em uso, deve ser guardado na caixinha que acompanha o produto, para evitar danos ao material. É importante ressaltar que, conforme a mulher ganha ou perde muito peso, é fundamental fazer uma nova medição com o ginecologista, já que o diâmetro anterior pode alterar. Vale lembrar que, durante o período menstrual, ele não deve ser utilizado, pois retém o sangue dentro do útero e isso pode levar a uma inflamação ou infecção grave.

 

ESTOU INTERESSADA. POR ONDE COMEÇO?

Procure um ginecologista que esteja familiarizado com o diafragma. Isso pode ser feito nas Unidades Básicas de Saúde do SUS ou em consultas particulares ou de convênios. Nelas, a paciente passa por uma medição, já que há vários tamanhos disponíveis (de 60 mm a 85 mm). A mulher fica deitada em posição de exame ginecológico e o médico introduz dois dedos no canal vaginal. Medida feita, ele testa dois ou três diâmetros diferentes do produto. Então, a paciente deve se movimentar para se certificar se sente algum incômodo. O tamanho ideal não causa nenhum desconforto. Depois, o ginecologista irá ensinar você a colocar e retirar sozinha e também fará uma receita médica para poder comprá-lo.

 

ONDE COMPRAR?

No Brasil, só pode ser comprado com prescrição médica, já que depende de uma medição prévia. É possível encontrar em farmácias ou lojas de produtos hospitalares, sendo que a forma mais fácil é nas lojas virtuais, que entregam em todo o país. Outra opção é entrar em contato com o fabricante. Atualmente, só há uma empresa que produz em toda a América Latina, a Semina – e ela é brasileira! Custa cerca de R$ 120.

 

COMO USAR?

Diariamente (o chamado “uso contínuo”) ou somente antes da relação sexual. Caso sinta dificuldade para introduzi-lo, use lubrificante à base de água. Após o sexo, é preciso esperar pelo menos oito horas para retirar o diafragma (esse é o tempo máximo que o espermatozoide sobrevive no canal vaginal). Mas, atenção: nunca fique mais de 24 horas seguidas com ele. É importante retirar e deixar o canal livre, ainda que por pouco tempo. 

 

PELO SUS

O Ministério da Saúde oferece diversos contraceptivos gratuitamente – e o diafragma é um deles! Em nota, o órgão afirmou que o método deve estar disponível em todas as UBS. Segundo dados oficiais, de 2011 a 2015 foram distribuídas 63.266 unidades do produto pelo SUS – um número ínfimo diante de 27 milhões de mulheres em idade fértil no país. Se não encontrar um profissional do SUS capacitado para a medição, ligue para o 136 (Disque Saúde) e registre a reclamação.

 

QUAL É O RISCO DE FALHA?

O assunto é controverso na literatura médica porque envolve uma série de fatores (desde o modo de uso até a associação com outros métodos). Para obter a maior proteção possível, recomenda-se utilizar o produto em todas as relações sexuais, mesmo que você não esteja nos dias férteis – esse é o chamado “uso perfeito”. Nesses casos, a chance de engravidar usando somente ele é de 4% a 6%. Porém, quando a mulher não segue a recomendação, essa taxa pode chegar a 16%. É por isso que os médicos têm sugerido o uso combinado do diafragma com uma ou mais formas de proteção, como, por exemplo, camisinha, tabelinha ou método sintotérmico (aferição de temperatura e fluido cervical).

 

COMO USAR

Com a própria mão, a mulher empurra pelo canal vaginal (1) o diafragma (2), até sentir que ele está cobrindo o colo do útero (3). Para retirar, basta inserir o dedo e puxá-lo para fora.

 

HÁ CONTRAINDICAÇÕES?

Quase toda mulher pode utilizar o método. Ele só não é recomendado para quem tem prolapso, rotura, retroversão ou anteflexão severa do útero (que são situações raras), assim como tônus muscular vaginal deficiente. Aquelas com aversão psicológica a tocar o próprio genital ou que demonstram dificuldade muito grande para aprender a colocar e retirar o diafragma também devem evitá-lo.

 

QUAIS SÃO AS VANTAGENS?

A maior delas é o fato de ser livre de hormônios e, consequentemente, poder ser usado pela grande maioria das mulheres, sem efeitos colaterais. Fora isso, trata-se de um método não invasivo, que não é sentido pelo casal durante a relação e que pode ser interrompido imediatamente (se decidir engravidar). Se você atualmente só utiliza camisinha como método anticoncepcional, o diafragma também pode ser útil porque age como uma barreira extra, caso ela venha a estourar ou vazar. E, para completar, para quem tem alergia ao látex do preservativo, o diafragma é uma ótima opção, por ser feito de silicone.

 

E AS DESVANTAGENS?

Se for usado sozinho e de forma pouco cuidadosa, há maior taxa de falha do que os métodos como a pílula ou o DIU, por exemplo. Ele também não protege contra doenças sexualmente transmissíveis – ao contrário da camisinha.

 

DIAFRAGMA NÃO É DIU

Muitos ainda confundem as duas nomenclaturas. Então, é preciso esclarecer: tratam-se de métodos completamente diferentes. DIU é a sigla para dispositivo intrauterino. Ele é um artefato em forma de T, que deve ser introduzido dentro do útero pelo ginecologista e fica lá por vários anos. Pode ser de cobre ou conter hormônio.

 

PRECISA DE ESPERMICIDA?

O diafragma pode ser usado junto com um gel que mata espermatozoides. Mas, após alertas da OMS, isso tem caído em desuso (o nonoxynol-9, ingrediente do gel, pode irritar e causar pequenas lesões na parede vaginal). Existe também a opção do gel manipulado à base de ácido lático, que é menos agressivo. Porém, vale lembrar que faltam pesquisas que comprovem a eficácia do diafragma associado ao espermicida.

 

HÁ DIAFRAGMA EM OUTROS PAÍSES?

Sim. A maioria é semelhante ao brasileiro. Mas há uma novidade, o Caya. Ele é um tipo de tamanho único, com formato que, segundo o fabricante, se adapta à maioria das mulheres, e tem validade de dois anos. A vantagem é não precisar da medição feita pelo ginecologista. Mas, por enquanto, está à venda apenas nos Estados Unidos (cerca de US$ 50) e em alguns países europeus, sem previsão de chegada ao Brasil.

 

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