Cerca de 200 pessoas estão na fila para adotar em Sergipe, segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNJ) que registra uma lista com mais de 29 mil candidatos em todo o país. A cada ano cresce o número de pessoas que se interessam por adotar uma criança ou adolescente.
No ano passado, 826 crianças foram adotadas no país, 30% a mais que em 2011. Grande parte dessas adoções é feita por pessoas que já passaram dos 40 anos, segundo o CNJ.
Os motivos são vários e entre eles estão a tranquilidade da estabilidade financeira já alcançada e a possibilidade de dar mais atenção à criança e até a chamada ‘síndrome do ninho vazio’, quando os filhos mais velhos deixam a casa dos pais.
E essa foi a história de Hulda Silva Dantas que há 27 anos adotou a primeira menina com menos de quatro dias de nascida, a Ester Silva e cinco anos depois, ela adotou outra recém-nascida, a Carol Abelha. Para abraçar a causa a matriarca, que hoje tem 69 anos, contou com apoio do esposo, Crislan Silva Dantas, de 68 anos e juntos carregavam a missão de já terem criado três filhos biológicos, o mais novo com 11 anos.
A jornada para concretizar essa ânsia em ‘doar amor’ não foi simples. Ela conta que na época um dos filhos tinha paralisia cerebral, além do trabalho como funcionária pública e a dedicação a filhos e ao marido. “Mas eu necessitava amar mais”, é assim que ela define essa fase da vida. “Faria tudo da mesma forma. Tenho orgulho delas e principalmente da postura independente que construíram até aqui”, elogia.
A primeira filha adotada, a Ester já tem 27 anos, dois filhos e planeja retribuir o carinho adotando também uma criança. “A minha história é a melhor que eu poderia ter e faço questão de seguir o mesmo exemplo de amor da minha mãe”, comenta ela sobre seu projeto em adotar uma menina.
“Prazo para isso ainda não tenho, mas o amor de mãe já está plantado”, completa.
Hoje já aposentada Hulda recorda que não sentiu dificuldade na relação com as filhas do ‘coração’. “O amor foi construído no dia a dia. Sempre deixei claro que as escolhi para mim, nunca houve diferença e sempre existiu um afeto sem cálculo. É uma relação como qualquer outra entre pais e filhos”, garante.
Assim como Hulda, existem mais de 29 mil pretendentes inscritos no CNA, entre solteiros e casados. Desses mais de 30% querem filhos brancos e mais de 90% preferem crianças entre 0 e 5 anos de idade.
“Uma das falhas ainda é essa exigência para a adoção que acaba influenciando todo o sistema. Seria mais interessante que as pessoas se conscientizassem que não estão em um supermercado a procura de um produto”, observa a assistente social Eleonora Santos que é contra os requisitos das famílias com relação ao perfil do adotado.
Para o psicólogo Luciano Dantas a exigência de padrões é mais vista entre brasileiros. “Os estrangeiros são chamados de frios, mas não são. Em uma situação como esta eles são desapegados das vaidades, dos padrões e costumam adotar geralmente aqueles que necessitam mais de ajuda, como um deficiente, por exemplo”, observa.
A advogada na área de direito de família, Acácia Gardênia Santos Lelis, orienta que deve existir uma conscientização coletiva voltada para incentivo à adoção e eliminação dos preconceitos. “Alguns fatores precisam ser trabalhados na sociedade, um dos mais importantes é a valorização da família para a formação do indivíduo, mas para chegar a esse ponto é preciso se despir de preconceitos” recomenda.