Mato Grosso, 29 de Novembro de 2024
Economia / Agronegócio

Araguaia é a nova fronteira agrícola

26.03.2012
17:35
FONTE: A Gazeta

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Ocupando uma área de 17,143 milhões de hectares, dos quais 6,872 milhões estão reservados à pecuária, a região do Araguaia tem sido identificada como “a nova fronteira agrícola”. Isso porque 45% da área de pastagem foi desenvolvida em latossolo, um tipo de solo propício ao cultivo de soja.

São 3,110 milhões de hectares favoráveis ao plantio de grãos, portanto, a maior área do estado. Atualmente, o médio norte mato-grossense, principal pólo produtor de soja e milho, dispõe de 898,449 mil hectares de pastagem revestindo área de latossolo. Regularidade nas chuvas e luminosidade adequada em quase toda região também contribuem para o desenvolvimento das lavouras.

Mapeamento foi realizado pelo Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea) e, segundo o gestor Daniel Latorraca, alguns fatores têm despertado o interesse de produtores pelo Araguaia. Com a predominância da pecuária, os preços das terras no nordeste mato-grossense estão mais atrativos à compra pelos produtores, ao contrário das propriedades no médio norte e oeste de Mato Grosso, onde o fortalecimento da agricultura encareceu as terras. Como o produtor de soja e milho tem obtido melhor rentabilidade que o pecuarista, faz a aquisição de novas áreas naquela região, para ampliação da agricultura.

Latorraca explica que para o pecuarista fazer a conversão da pastagem em área agricultável é preciso uma disponibilidade de recursos que nem todos possuem. No nordeste mato-grossense, a concentração de frigoríficos tem pressionado para baixo os preços da arroba do boi gordo, afetando ainda mais a rentabilidade dos pecuaristas, explica o gestor. Para compensar essa transferência de área de pastagem para agricultura, os criadores de gado local têm necessitado ampliar a produtividade e por isso estão investindo no confinamento do rebanho.

Outra alternativa buscada é a integração lavoura-pecuária. “Essa é uma prática que já vem acontecendo em todo Estado, com o plantio do milho associado à pastagem, para receber numa mesma área o gado, após a colheita”. Presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro, acrescenta que a correção do solo para cultivo de grãos favorece inclusive a pastagem, no sistema integrado lavoura-pecuária. Com as restrições à produção em novas áreas, a integração é apontada como uma opção lucrativa para potencializar a produção. “E o Araguaia é a grande fronteira agrícola do Estado, com um potencial espetacular para aumento da produção sem desmatamento”.

Produtor de soja e milho no município de Querência, Gilmar Dell Osbell ilustra a mudança na cadeia produtiva da região nordeste. “Em todo o vale do Araguaia e do Xingu há muita pastagem virando soja e, com a conversão, está aumentando o confinamento”. Para o engenheiro agrônomo e doutor pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Euro Roberto Detomini, as apostas agrícolas no Araguaia devem ser antecipadas por uma avaliação da exata aptidão agrícola da localidade, de modo a garantir uma produção economicamente viável por um maior período possível. Isso porque, detalha, a classificação morfológica do solo não é a única característica determinante no sucesso agrícola. “Outros atributos devem ser também contemplados e com maior ênfase, como topografia, altitude e elementos do clima, como radiação solar, temperatura, umidade, ventos e chuva”. Após residir na região durante quase dois anos, Detomini identificou diferenças não somente na constituição do solo, mas também do clima. “Algumas áreas de latossolo dessa macrorregião apresentam regime pluviométrico mais desfavorável que outras”.

Essas características acabam refletindo nas diferenças de produtividade e, consequentemente, nas possibilidades de execução das safras agrícolas nas regiões menos providas de chuva. Na avaliação do pesquisador, a substituição das pastagens em latossolos no Araguaia por lavouras de soja depende ainda de toda engenharia econômica e de produção que envolve os dois sistemas produtivos.

“Nas regiões logisticamente mais distantes, pode ser mais interessante manter a pecuária nos latossolos”. E mesmo em algumas áreas mais próximas aos principais acessos viários, o regime diferenciado de chuvas pode continuar favorecendo mais a pecuária do que a agricultura. Ou seja, não há uma relação direta entre a viabilidade de substituição da pecuária sobre latossolo por lavoura. “Há apenas uma tendência empírica de que isso venha a ocorrer, mas caberá analisar com engenharia econômica e de produção se esta tendência valerá também para os diversos casos possíveis e existentes nas pastagens sobre latossolos do Araguaia”. Detomini recomenda cautela nesse processo de conversão das pastagens na região, especialmente pelos produtores que não possuem grandes escalas de produção agrícola. “Tudo irá depender de ambos os mercados e dos custos de produção de carne e grãos”.

Segundo ciclo - Em relação às áreas de pastagens degradadas identificadas na região, estimadas em 1 milhão de hectares, o presidente do Instituto Socioambiental (ISA), Rodrigo Junqueira, comenta que são resultantes de um processo de mudança agressiva de floresta em pasto. Mas, esse segundo ciclo de conversão (pastagem degradada em agricultura) está se consolidando rapidamente, diz Junqueira. “Ainda assim, é preciso ter alguns cuidados, relacionados à conservação das águas, do solo, com controle no uso de agrotóxicos”.

Investimentos - A vocação agrícola do nordeste mato-grossense pode ser evidenciada ainda mais com os investimentos em infraestrutura, principalmente para garantir o acesso à Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico). Adequações na logística de transporte irão favorecer a retirada da produção local, assim como do médio norte mato-grossense, pelos portos do Norte e Nordeste do país, com destino ao mercado internacional. Essas mudanças associadas à superação dos inúmeros conflitos agrários registrados no Araguaia devem consolidar a produção agrícola da região nos próximos 5 anos, conclui o economista Adriano Figueiredo.

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