Mato Grosso, 28 de Março de 2024
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Marcelo Odebrecht explica ao TSE 'relação intensa' com governo Dilma

24.03.2017
09:26
FONTE: G1

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Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora, e os outros ex-executivos da empresa foram ouvidos em depoimento a pedido do ministro Herman Benjamim, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer. A suspeita é de abuso de poder político e econômico.

O depoimento do empresário Marcelo Odebrecht foi revelado pelo site "Antagonista" nesta quinta (23). A TV Globo também obteve o documento.

A uma pergunta sobre a relação da Odebrecht com a campanha eleitoral que reelegeu Dilma Rousseff, o empresário afirma que, "para ela, a maior parte, talvez quatro-quintos, foi caixa dois".

Marcelo também afirmou ao TSE que "a campanha presidencial de 2014 foi inventada", primeiro, por ele mesmo, Marcelo, que não se envolveu na maior parte das demais campanhas, mas a eleição presidencial ele conhecia, e que, de maneira geral, os valores foram definidos por ele.

Segundo Marcelo Odebrecht, R$ 150 milhões foram colocados à disposição para a campanha de Dilma.
Marcelo explicou que a empresa tinha "relação intensa" com o governo Dilma, que essa relação intensa gerava a expectativa de que a Odebrecht fosse um grande doador. Dos R$ 150 milhões, R$ 50 milhões vieram a partir de um pedido, uma contrapartida específica, a edição da Medida Provisória 470, um "refis" na crise de 2009, que beneficiou a Odebrecht.

Marcelo disse que, em uma reunião com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, ele disse: "Olha, Marcelo, eu tenho a expectativa de que você contribua para a campanha de 2010 com R$ 50 milhões". Mas, segundo Marcelo, Mantega acabou não se envolvendo na campanha de 2010, a primeira de Dilma, e esses R$ 50 milhões ficaram para a campanha de 2014.

Marcelo Odebrecht disse que, na prática, Guido Mantega só começou a pedir dinheiro para o PT a partir de 2011, quando era ministro de Dilma e Antonio Palocci já tinha saído da Casa Civil. Até aquele momento, segundo o depoimento, era Palocci que fazia a maior parte dos pedidos do PT.

Ainda sobre a campanha de 2010, Marcelo Odebrecht disse que todos os pedidos de doação foram feitos por Lula e Palocci e que Dilma nem se envolvia em 2010.

Campanha de 2014
Na campanha seguinte, em 2014, Marcelo Odebrecht disse que doou dinheiro para outros partidos da coligação que apoiou Dilma, a pedido de Guido Mantega, e que uma parte do dinheiro foi de caixa dois.
Ao todo, Marcelo Odebrecht disse que acertou com Guido Mantega R$ 170 milhões e, somado ao que acertou com Antonio Palocci, entre 2008 e 2014, o valor chega a R$ 300 milhões.

Questionado se a conta administrada primeiro por Antonio Palocci e depois por Guido Mantega era para o PT, Marcelo disse que era para a Presidência.

De acordo com as investigações, esse dinheiro fazia parte de uma espécie de conta corrente, criada pela construtora Odebrecht para atender ao PT, mas era também uma maneira de a Odebrecht estabelecer um limite para os pedidos de dinheiro.

Segundo o site "Antagonista", a empresa apresentou uma planilha ao TSE com um controle de saldo da conta-corrente da empresa com Lula, Palocci e Guido Mantega. Em 22/10/2013, o "amigo", como era chamado Lula, tinha saldo a receber de R$ 15 milhões. Em 31/03/2014, o saldo era de R$ 10 milhões.

Marcelo Odebrecht contou também que, numa conversa em 2014, Guido Mantega se referiu à presidente Dilma ao fazer um pedido.

Segundo o empresário, Mantega teria dito: "Marcelo, a orientação dela agora é que todos os recursos de vocês vão para a campanha dela. Você não vai mais doar para o PT, você só vai doar para a campanha dela, basicamente as necessidades da campanha dela: João Santana, Edinho Silva, e esses partidos da coligação."

Marcelo disse que sempre ficou evidente que Dilma sabia dos pagamentos da Odebrecht para João Santana e que ele não tem a menor dúvida.

Marcelo Odebrecht garantiu que Dilma também sabia da dimensão da doação da empresa, sabia que eles doavam, quem fazia grande parte dos pagamentos via caixa dois para João Santana. "Isso ela sabia", segundo Marcelo.

Marcelo Odebrecht disse que, assim que estourou a Lava Jato, ele alertou Dilma. "Olha, presidente, eu quero informar para a senhora o seguinte: eu tenho medo de que, vi a questão da Lava Jato, exista uma contaminação nas contas do exterior que foram usadas para pagamento para João Santana, então quero alertar a senhora disso."

Caixa 2
Marcelo também falou o que acha sobre caixa dois, e o comparou a outros crimes. O empresário disse que reconhece que:

"Quando você vai para o caixa 2, mesmo que o caixa 2 não tenha origem numa propina, ele carrega uma ilicitude, ele desiguala o processo eleitoral e, ademais, é aquele processo de contrabando. Quer dizer, na hora que a gente está aceitando filme contrabandeado, nós estamos dando dinheiro para um setor. Então, na hora que é caixa 2, a partir daí eu não posso mais assegurar se aquele dinheiro foi de fato para a campanha".

Em seu depoimento, Marcelo Odebrecht disse ainda que, em 2014, Guido pediu mais dinheiro via caixa um, oficial, para a campanha da Dilma, mas Marcelo respondeu que não tinha como doar mais do que já havia doado, por causa do limite imposto pela legislação eleitoral. Mantega, de acordo com Marcelo, então, "veio com uma equação de bancar o apoio a outros partidos da coligação, compromissos que o PT tinha com outras legendas".

Doações para outros partidos
A divisão deste dinheiro foi explicada por outro depoente: Alexandrino de Alencar, ex-diretor da Odebrecht, em depoimento ao TSE na mesma ação e obtido pela TV Globo.

Ele afirmou que essa divisão foi definida pelo tesoureiro da campanha, Edinho Silva: que queria que fossem R$ 7 milhões para cada partido.

Alexandrino disse que ouviu de Edinho que esse dinheiro era para comprar tempo de TV, ou seja, comprar o apoio de partidos da base aliada. E Alexandrino ficou com a missão de fazer o pagamento a três partidos: PCdoB, PROS e PRB. O PDT e o PP receberam por meio de outros operadores. Segundo Marcelo Odebrecht, o total pago aos cinco partidos chegou a R$ 27 milhões.

Tarjas
Trechos de alguns depoimentos têm tarjas pretas cobrindo as citações ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). O TSE aceitou o pedido feito pelo advogado do PSDB, alegando que a candidatura de Aécio em 2014 não era objeto da ação.

Mesmo assim, em alguns pontos, é possível ler o que diz o documento. Em deles, Benedicto Junior, ex-executivo da Odebrecht que fazia a ponte entre políticos e a empresa, detalha o pagamento de R$ 9 milhões para três candidatos do PSDB, a pedido do presidente do partido, Aécio Neves: o senador Antonio Anastasia, Dimas Fabiano Toledo, candidato a deputado federal pelo PP, e Pimenta da Veiga, que concorreu ao governo de Minas Gerais em 2014.

Segundo Benedicto, o pagamento – em caixa dois - também incluiu a empresa publicitária PVR, que trabalhou na campanha de Aécio Neves para a Presidência da República.

Versões
Todos os citados negaram envolvimento com irregularidades.

A ex-presidente Dilma Rousseff disse que nunca teve proximidade com o empresário Marcelo Odebrecht e que jamais pediu a ele doações para a campanha dela ou para o Partido dos Trabalhadores.

O advogado dos ex-ministros Guido Mantega e Antônio Palocci disse que não conhece o depoimento na íntegra.

O PT não quis comentar.
O tesoureiro da campanha de 2014, Edinho Silva, disse que todas as doações da Odebrecht foram feitas de forma ética, dentro da legalidade e que as contas foram aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A assessoria do Instituto Lula disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais solicitou recursos indevidos para a Odebrecht ou qualquer outra empresa e que isso será provado pela Justiça.

A defesa do marqueteiro João Santana não quis comentar.

Aécio Neves tem dito que solicitou, como dirigente partidário, apoio para candidatos de Minas Gerais e de todo o Brasil a diversos empresários, sempre de acordo com a lei.

Dimas Toledo informou que não conhece o delator e negou ter recebido doações da Odebrecht.

Pimenta da Veiga não quis comentar.

A assessoria de Antonio Anastasia disse que o parlamentar nunca tratou na trajetória pessoal ou política com qualquer pessoa ou empresa sobre qualquer assunto ilítico.

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