Mato Grosso, 29 de Março de 2024
Esportes

Pop, parça de Neymar e com a autoestima lá no alto: a Rafaela Silva pós Rio 2016

27.03.2017
09:50
FONTE: G1

IMPRIMA ESSA NOTÍCIA ENVIE PARA UM AMIGO

Expressão fechada, por vezes sisuda. Rafaela Silva pouco sorri enquanto treina. A música de fundo no CT Maria Lenk, casa do Time Brasil, na Barra da Tijuca, apenas tenta quebrar o clima de seriedade da judoca campeã olímpica na Rio 2016. Sete meses depois do dia dourado, a menina da Cidade de Deus, comunidade na Zona Oeste da cidade, já recomeçou a caminhada rumo aos Jogos de Tóquio, em 2020. O peso que carregava desde Londres, porém, ficou para trás. E a transformou. Exausta e fazendo caretas, ela encerra o trabalho do dia e bem-humorada, senta para a entrevista. Faz piada... Quem acompanha as redes sociais da jovem de 24 anos percebe que ela mudou. As postagens exibem sorrisos, gifs, e principalmente, expõem em síntese quem ela é, o que não acontecia plenamente antes do ouro no quintal de casa.

Quando foi eliminada em Londres 2012, Rafaela recebeu insultos racistas nas redes sociais, revidou, sofreu muito e chegou a pensar em desistir da carreira de judoca. Recebeu apoio, não fraquejou e um ano depois conquistou no Rio de Janeiro um inédito título mundial para o Brasil. No Maracanãzinho, mostrou mais uma vez que ela era sim capaz de ter sucesso em Olimpíada. Foi o que aconteceu na Arena Carioca 2, no dia 8 de agosto de 2016. Dali em diante, Rafaela confessa que uma transformação ocorreu em sua vida. A medalha no peito, a sensação de dever cumprido.. Ela não duvidava mais dela mesma, nem da sua forma de ver e viver a vida, com direito a moicano no Carnaval, fotos descontraídas e fantasias.

- Ainda sou tímida, mas depois que saí do tatame na Olimpíada do Rio fui recebida de uma maneira diferente pelas pessoas nas redes sociais e nas ruas. Agora me sinto mais à vontade de abrir a boca, falar, sei que as pessoas não vão me criticar como foi em Londres. Ali, daquele momento em diante, se falasse um ai, já vinha gente perguntar o que eu estava falando. Quem era aquela garota para falar aquilo. E agora, se eu falo um oi, mil pessoas curtem, comentam. Mudou bastante. Me sinto à vontade de falar o que quero e ser eu mesma. Quero ser a Rafaela que eu já era antes, mas não mostrava nas redes sociais por ter medo das reações da pessoas - conta a judoca carioca.

A volta aos tatames após o ouro aconteceu em fevereiro, no Grand Slam de Paris. A medalha não veio, mas a viagem teve uma feliz coincidência. Rafaela reencontrou Neymar, importante figura desde Londres 2012. Ele estava na cidade para uma partida da Champions League, contra o PSG, e ela para competir. Naquela época turbulenta, ainda em 2012, o craque do Barcelona enviou uma mensagem nas redes sociais a defendendo e também ligou para Rafaela. Disse que ela conquistaria no Rio de Janeiro o seu sonho, que entendia o que ela passava e que ela não precisava se sentir assim. Foi como uma profecia. Sentença que Rafa fez questão de retribuir.

- Foi bem bacana esse reencontro. Eu almocei com ele, com o pai dele e alguns amigos. Conversamos um pouco. Em 2012, ele falou que entendia o que eu estava passando e que eu ia realizar o meu sonho na Olimpíada do Rio. Quando ganhei minha medalha, ele mandou mensagem de novo. Sempre estamos conversando, somos atletas e independentemente da modalidade, nós sabemos o nosso sofrimento e as pessoas entram nas nossas redes sociais só para criticar, como fizeram com ele no início da Olimpíada e depois que ele ganhou o ouro foram falar bem dele - conta Rafaela.

A foto com o jogador da seleção brasileira, inclusive, é apenas uma das que aparecem em seu Instagram. E no dos outros famosos. Campeã olímpica, Rafaela Silva agora é pop. E alvo dos artistas para fotos e conversas em festas e presenças vips. Se antes corria atrás deles para tietar, agora é o contrário.

- Eu? Pop? Eu não (risos). Mas é bem diferente mesmo. Antes, chegava em um evento com o Flávio Canto (ex-judoca, apresentador da TV Globo e incentivador na carreira) e nem era convidada. Ele era quem me arrastava para lá. E eu queria tirar foto com aquele que aparecia na televisão, com o outro famoso que estava lá. Agora são eles quem vêm me procurar para tirar uma foto. É bacana ver que as pessoas me reconhecem e sabem do meu trabalho - diz.

Com apenas 24 anos, Rafaela não tem pressa. Sabe que terá muitos anos de judô pela frente. Mas segue se cobrando muito. Campeã mundial e olímpica, ainda persegue dois títulos que não tem. Assim, antes de pensar em estudar psicologia esportiva para ajudar atletas como ela, foca no tatame para que um dia nada reste no seu "caderninho".

- Eu tenho essa cobrança. Sempre faço minhas contas do que falta, do que já conquistei. Nunca fui campeã de um World Masters, dos 16 melhores ranqueados, e também não venci um Grand Slam. Então, quando entro nessas competições, me cobro um pouco mais. Fica na minha cabeça.

"Nem todo mundo é um Teddy Rinner"
Após a conquista do Mundial, no Rio de Janeiro, Rafaela foi criticada pela temporada de 2014 e também em 2015. Caiu cedo nos dois mundiais seguintes e chegou a ser colocada como uma dúvida quanto ao desempenho na Olimpíada. Agora, mais experiente, ela quer dar fim aos altos e baixos, buscando uma regularidade na carreira.

- Nem todo mundo é um Teddy Rinner (lenda francesa, invicto desde 2008), que está há anos sem perder uma luta, mas estou treinando bastante. Saí de um título Mundial e no outro ano fui eliminada nas quartas, para uma mongol, fiz a disputa do bronze, perdi, fiquei sem medalha. No outro ano, caí na primeira rodada. Agora estou treinando mais, sei que estou visada e temos muitas meninas novas, que estão surpreendendo, como uma alemã que venceu a mongol que foi a vice-campeã olímpica no Rio de Janeiro. Quero dar uma regularidade na minha carreira e nos meus resultados e espero conseguir isso com os treinos diferenciados que estou fazendo - diz a judoca, que na terça-feira viaja para o Gran Prix de Tbilisi, na Geórgia.

Backnumber dourado transforma carioca em alvo
Cercado de rituais seculares, o judô mantém uma tradição que traz uma pressão extra aos atletas. Os campeões olímpicos passam o novo ciclo inteiro ostentando atrás do quimono um backnumber dourado, diferenciado dos demais atletas (os campeões mundiais exibem o backnumber vermelho até o próximo Mundial). O status é um reconhecimento pelo feito conquistado, mas também uma responsabilidade a mais. Com apenas uma competição após a Olimpíada, Rafaela já percebeu isso.

- Dava para ver que a Sarah Menezes (brasileira ouro em Londres 2012) era o alvo. Chegávamos em um treinamento internacional e ela era o centro das atenções. E isso aconteceu comigo em Paris, no Grand Slam. Eu pisei no tatame, todo mundo quer tocar no quimono, quer treinar, então o backnumber é um alvo que colocaram nas nossas costas. Temos que fazer algo para distanciar as flechas que vem para cima do alvo. Já deu para perceber. Eu treinava com as meninas da minha categoria, mas tinha que chamá-las. Agora, dou um passo e tenho que sair, preciso selecionar meus treinos. Tem muita menina nova no ciclo, e dei prioridade para elas - explica Rafaela.

A medalha conquistada na Rio 2016 está ao lado da televisão, passatempo entre os treinos: "Estou vendo televisão e vendo a minha medalha. Eu olho para a televisão com um olho e com o outro eu olho para a medalha", dá risada. Entre os planos mais urgentes está mais uma tatuagem. A judoca quer eternizar a conquista no Rio de Janeiro, mas ainda não decidiu o que fazer. Enquanto isso, usa sua assessoria e as redes sociais para pedir votos. Ela quer ser a Atleta da Galera no Prêmio Brasil Olímpico, na próxima quarta-feira, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro.

- Quero ganhar. Em 2013 perdi da Poliana Okimoto. Ganhei a do judô, mas perdi a melhor atleta do ano. O que puder levar quero levar. Espero que as pessoas continuem votando. Estou atrás dos meus pontinhos, falei com a minha assessoria, porque quero ganhar esse troféu. Estou vigiando todos os dias. A primeira vez eu tinha 7% e o Nory 46%, mas passei, cheguei a 33% a 26%, então estou brigando, e faltam poucos dias, tenho que brigar por esses pontinhos. Galera, vota aí que estou contando com esse um pontinho, dois, para ser o atleta da torcida.

IMPRIMA ESSA NOTÍCIA ENVIE PARA UM AMIGO

NOTÍCIAS RELACIONADAS

ENVIE SEU COMENTÁRIO