Mato Grosso, 28 de Março de 2024
Esportes

Campeão olímpico mais baixo, Bruno recorda: "Tive que me fingir de surdo"

27.08.2016
09:40
FONTE: G1

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  • Alison e Bruno Schmidt após o ouro olímpico nos Jogos Olímpicos do Rio 2016
Nunca na história das Olimpíadas houve um campeão olímpico no vôlei de praia mais baixo do que Bruno Schmidt. Sobrinho do ex-jogador de basquete Oscar (2,05m) e do apresentador Tadeu Schmidt (1,92m), o jogador de 29 anos e 1,85m jamais se deixou abalar pelo preconceito e pelas dificuldades impostas por ter uma estatura abaixo dos padrões para se tornar um gigante nas areias. Conhecido como "Mágico" pela técnica, versatilidade e pelo talento, provou ao atingir o auge, ao lado de Alison (2,03m), que o vôlei de praia é democrático. Ao longo da carreira, Bruno admite que pensou em desistir, mas, graças ao pai, Luiz Fernando, seguiu em busca de seus sonhos. Cansou de ouvir que não iria a lugar algum, que aquele não era mais um esporte para baixinhos, que nunca estaria nos planos da Confederação Brasileira de Vôlei e não teria chances de representar o país nos Jogos Olímpicos. Precisou até se fingir de surdo certas vezes, mas sempre usou as dificuldades como combustível.

O abraço em Shelda, duas vezes vice-campeã olímpica, em Atenas 2004 e Sydney 2000, coroou o caminho marcado por muita dedicação até o topo do pódio no Rio. No pé do ouvido de Bruno, a ex-jogadora de vôlei de praia disse, emocionada: "Você superou todas as expectativas de todo o mundo, ninguém acreditava em você". 

- O vôlei exige altura, e você ali, sem ninguém te conhecer, fora dos padrões, não é fácil. Eu tive que escutar muita coisa que estava longe de elogios, tive que me fingir de surdo várias vezes. Algumas vezes, isso não tem tempo, um pouco recente até, achei que estivesse perdendo tempo da minha vida, batendo em uma tecla que não ia dar em nada. A figura do meu pai foi importantíssima para me manter em busca dos meus sonhos e por isso fiz questão de agradecê-lo no momento da conquista - contou Bruno. 

O parceiro de Alison também destaca a maturidade adquirida em meio à descrença:

- Falavam que não ia dar em nada, que o vôlei não era esporte para baixinho mais, que só antigamente eu conseguiria jogar e que desde que a quadra diminuiu que o vôlei de praia não comportava mais atletas abaixo de 2,00m de altura, que eu nunca estaria em planos da Confederação e representaria o meu país em uma Olimpíada. São tantas coisas que eu tive que escutar e me fingir de surdo... Mas eu sempre escutei as pessoas que acreditavam em mim e aprendi a não me importar com as que não iriam acrescentar nada. Foi um amadurecimento muito grande saber lidar com isso. São situações as quais os atletas novos podem não conseguir saber lidar no começo. Mas a mensagem que eu passo é essa: este é um esporte altamente democrático - completou o exímio defensor, que fez na Rio 2016 a sua estreia em Olimpíadas. 

Saber lidar com a pressão no maior desafio de sua vida foi um dos principais pontos da campanha pelo ouro olímpico. A ansiedade e o peso da responsabilidade não o deixaram dormir. Insone, ligava e mandava mensagens para família durante a noite. As conversas varavam a madrugada e ele atravessou uma verdadeira "via-crúcis", como lembrou o pai. 

Aos poucos, foi derrubando obstáculo por obstáculo diante de antigos campeões olímpicos e mundiais. Passou nas quartas de final pelos americanos Phil Dalhausser, ouro em Pequim 2008, e Nick Lucena, em uma "final antecipada", e superou na decisão os italianos Nicolai e Lupo, atuais campeões europeus, por 2 a 0 (21/19, 21/17) na mítica Praia de Copacabana, berço da modalidade. O feito colocou Bruno e Alison em um seleto grupo de seis brasileiros, que também inclui Ricardo e Emanuel (Atenas 2004) e Jacqueline e Sandra Pires (Atlanta 1996). 

O sono só voltou quatro dias depois da conquista. Além da exigência natural de representar a bandeira do Brasil, ele tinha uma grande cobrança pessoal e o próprio corpo demorou a relaxar. 

- Foi o evento mais difícil da minha vida. Mais do que a pressão de representar o país em casa em um evento desta importância, foi a pressão que eu me botava, e tive de lidar com essa dificuldade no decorrer dos Jogos. Eu não queria deixar passar. Que bom que consegui um desfecho feliz. Dei o meu máximo e dormi muito pouco por conta de ansiedade e excesso de vontade. Todos os meus amigos e familiares presentes. Eu não queria desapontar ninguém e fui botando muito peso para carregar. Mas, se fosse para carregar tudo de novo, eu carregaria quatro vezes mais com o maior prazer. Que bom que terminou bem. E você acaba caindo no cuidado do pessoal. Tirei foto com criancinhas e elas vieram perguntar logo depois: “Você já dormiu?”. Eu não sabia se eu ria, se abraçava, se respondia... Mesmo cansado, demorei a dormir nos dias seguintes. O corpo não entendeu que a competição acabou, e o psicológico estava muito contente por tudo. Dormia e acordava, dormia e acordava, como nos Jogos. Foi a maneira que o meu corpo reagiu com as emoções. Mas eu tenho um tempo para recuperar e voltas às competições - contou Bruno. 

A medalha de ouro veio na sexta-feira, e a dupla já iria viajar no domingo para os Estados Unidos para a disputa do Grand Slam de Long Beach, na Califórnia. Mas, como eles receberam um convite para o World Tour Finals, em setembro, no Canadá, reunindo as 12 melhores duplas da temporada de 2016, aproveitaram para passar alguns dias em casa. Foram apenas três dias de folga, afinal, a disputa começa no dia 13, em Toronto. 

Por atuarem em um esporte de muita precisão, no entanto, os atuais campeões olímpicos e mundiais não puderam comemorar muito. Já voltaram aos treinos na Praia da Costa, em Vila Velha, no Espírito Santo, onde vivem e foram recebidos como heróis. 

- O vôlei de praia tem essa particularidade. A gente só consegue parar para comemorar em Natal e Ano Novo, as nossas férias. Quando eu falo que a gente joga de janeiro a dezembro, o pessoal não tem noção de como é. E o vôlei, por ser um esporte de muita precisão e de uma série de fatores que contribuem para o jogo, você tem de estar sempre jogando, competindo ou treinando. Se cuidando, fazendo fisioterapia. É um esporte de muita dedicação. Todo mundo está acompanhando de perto pela nossa conquista, mas eu sempre lidei com a minha carreira desta maneira, com muita dedicação e muito empenho. Eu não vou mudar e agora vou intensificar - disse Bruno, em um bate-volta de menos de 24 horas entre Vitória e Rio de Janeiro para o compromisso com um de seus patrocinadores (após o evento pela manhã, voltou de avião para a terra natal e só teve tempo de trocar de roupa para ir aos treinos e, em seguida, à academia:

-  Vim ao Rio para dividir esse momento com meus patrocinadores, pessoas que sempre estiveram do meu lado na minha carreira, e eu faço isso com muito orgulho e carinho. Mas assim que eu chegar no Espírito Santo, tenho já que trocar a roupa para o treino da tarde. Fazemos isso tudo por conta da vitória e do resultado. Se eu pudesse fazer quatro vezes mais, eu faria.

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